VIDA E MORTE DE MÃOS DADAS (9)
"Mientras dormia", após ter comemorado o meu
aniversario de 200 anos de idade, sentindo ainda jovem, morri com dignidade, em
uma cama de um CENTRO DE IDOSO do Mindelo, a minha cidade de utopia, dia
acordado com o pai todo poderoso, de modo a permitir aos meus familiares
residentes e na diáspora assistirem a minha desencarnação, e a me acompanhar à
minha MORADA CERTA, via quartel da PRM, em Alto de Morabeza, pra uma cerimónia
de praxis, reservada aos oficiais militares de QP, passando por Madeiralzinho,
pra uma paragem relâmpago em frente a casa onde passei os meus primeiros anos
de vida terrena, até ser deportado pra Boa Vista, por delito comum de
solteiriço irresponsável.
Era pra ser cremado, as minhas cinzas lançadas nos mares de
S.Vicente, S.Nicolau, Boa Vista e Sal, por falta de legislação, fui sepultado
na CAVE número 384, onde se encontra os restos mortais de mãe – MNS, sito na
rua 27 esquerdo de “CPT” / 1888, com direito a honras militares, por ser
Soldado de segunda geração dos combatentes de Liberdade da Pátria, ou
combatentes de Independência, Liberdade e Justiça. A leitura de (AUTO)BIOGRAFIA
DO SALDADO-CIDADAO, por mim escrita, feita por um capitão infante, deixou a
comitiva de sociedade civil, política e militar em lágrimas. Palmas prolongadas
e gritos de choro inconsolado, ao som dos disparos em rajadas alternadas de
metralhadora Kalashnikov AK-47, me arrepiava de emoção, ao ponto de querer
desistir de viagem, e ficar pra sempre com a gente boa (NATELIZA-SDT,
FAMILIRES, ALFAMARIAS, AMIGAS E AMIGOS)! Antes de descer ao abrigo de
eternidade, NATELIZA-SDT recebeu a Bandeira Nacional, o Chapéu de gala,e as
insígnias (objectos pessoais), pra recordação do capitão de
areia/salina/lajinha.
A minha passagem e as cerimónias fúnebres foram retratadas e
filmadas por mim, com a minha Canon, juntinho comigo a sete palmos, como
recordação e reconhecimento do meu tributo neste mundo escola. Durante dias,
tempo permitido como manda a tradição para o ritmo de morte, a minha alma
permaneceu no espaço terreno, a vigiar e a registar todos os movimentos de
solidariedade, pra ter a certeza do quanto fui querido e respeitado.
O reencontro com os meus camaradas de armas, que tinham
partido há séculos, foi maravilhoso. Muita festa e convívio, com curiosidade em
saber dos festivais, aos sábados, de Rua de Lisboa, e se a viagem tinha “kurrid
dret” e como tinha deixado a Terra. Assim na Terra como no Céu!
Ao lerem esse Testemunho de Passamento, muitos vão rir,
enquanto outros, vão achar que estava louco. Que me perdoa! Era pra ser em
versos, contrapondo a outros poemas sobre a minha morte, mas por congeminação
viral de “La vida y la muerte de Marcelino Iturriaga” de Javier MARIAS em
“Mientras ellas duermen”, acabei escrevinhando neste estilo mitigado de
candidato a presidente a algum cargo no além!
Um abração, bem mindelense, aos meus sempre queridos, que
permanecerão por muitos anos nesse mundo-escola. Podem contar comigo, pra um
favorzinho junto das Forças Superior, no Mundo Astral!
Txan de Marinha, 15/10/2015
Capitão Olisanto Nateliza