quarta-feira, 27 de novembro de 2024

ABEL SILVA



 O marítimo aposentado Abel Silva Santos, de 71 anos, mais conhecido por “Barba” é natural da Boa Vista e partilhou um pouco da sua história no mar…

Em 1967, mais precisamente, no dia 12 de setembro, com apenas 16 anos, Barba embarcava na sua primeira viagem de Boa Vista para Santo Antão no barco à vela como o nome de “Maria Tereza”, com a duração de 5 dias, e que ficou sendo o marco na sua carreira como marítimo.

Descreve a sua primeira viagem como sendo tranquila, não obstante os enjoos a bordo, que culminaram em vómito à chegada ao porto de destino. Foi a primeira e derradeira vez que tal lhe ocorreu durante toda a sua vida no mar.

Filho de pai pescador, desde muito cedo, tinha o hábito de ir à pesca, com o pai, num bote. 

Começou como moço de câmara, tendo, após dois anos, passado a “Fervedor”, designação dada, na altura, ao marítimo que iniciava as lides de cozinheiro, e isto porque o milho fervido era o principal ingrediente à mesa da tripulação dos navios cabo-verdianos. 

Contava diariamente com vinte escudos para a compra dos frescos para as refeições a bordo. Ocupava-se das refeições do Contramestre e do Capitão, bem como da limpeza da área de descanso dos mesmos, camarotes. 

Conta ainda, que no início de sua carreira passou por várias dificuldades, não tinha calças compridas nem sapatos, e durante muito tempo ficou exposto ao frio e ao mau tempo. Outrossim, afirmou que sempre teve a ajuda dos demais colegas, porque ele era o mais novo e por vezes algum colega descalçava os sapatos para que ele os pudesse calçar.

Sr. Abel, ou simplesmente “Barba” conta que somente após dois anos de trabalho é que começou a receber 550$00, quando passou a desempenhar as funções de Fervedor.

Mais tarde, em 1974, e após uma interrupção de 3 anos, para “ir à tropa”, voltaria ao “seu” mar até 2015, altura em que se aposentou como mestre costeiro.

O Barba visitou uma infinidade de países, tais sejam os Estados Unidos da América, boa parte dos países da Europa do Norte, e toda a costa Oeste do continente africano, desde Marrocos até São Tomé e Príncipe.

Enquanto marítimo que vivenciou a experiência de embarcar em navios à vela e à propulsão a motor, considera serem vivências totalmente diferentes.

História marcante do navegador

Barba conta que numa viagem a um país do norte de África, juntamente com um colega, desceram à terra para um passeio à noite, quando foram abordados pela polícia, que os questionou sobre quem eram e o que ali faziam. Após terem respondido às perguntas, foram de imediato colocados na viatura da polícia sob a ameaça de somente serem libertados se entregassem uma quantia em dinheiro. Foram libertos horas depois. Jurou nunca mais pisar o solo desse país.

Em jeito de remate, deixa um conselho aos mais jovens: honrem a profissão que escolheram, façam o vosso trabalho, com diligência e zelo, e façam de tudo para garantir os vossos direitos à previdência social, à assistência médica e medicamentosa para que possam na velhice colher as sementes plantadas durante esse longo e sacrificado caminho pelo MAR!

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